domingo, 13 de julho de 2014

Capítulo 1 - A ideia de Conservadorismo





Russell Kirk foi um pilar do Conservadorismo intelectual americano. WIllmoore Kendall o chamou "o sábio benevolente de Mecosta", e assim ele foi, produzindo um trabalho erudito após o outro em Piety Hill, seu lar ancestral na Michigan rural. A principal de suas obras é A Mente Conservadora, sua dissertação de doutorado por Saint Andrews e o mais respeitado recurso do conservadorismo para o patrimônio e autoridade acadêmica. Publicado pela primeira vez em 1953 e revisado por seis vezes desde então, este grosso volume fez mais do que prover uma genealogia de ideias para o insipiente renascimento do conservadorismo que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. Nesta obra magna, Kirk traça a história do conservadorismo moderno por meio de seus expoentes, começando com o estadista britânico Edmund Burke e concluindo, na edição revista, com o crítico literário T.S. Eliot. Kirk examina os grandes nomes do pensamento conservador anglo-americano e recolhe lições que servem hoje como em sua época. Mesmo em diversas figuras como John Adams, John C. Calhoun e Samuel Taylor Coleridge, Kirk acha fios comuns de pensamento que podem fornecer enérgicas e muito necessárias respostas para a questão perene: que é Conservadorismo?
O trabalho de 509 páginas de Kirk é dividido em 13 capítulos, 11 dos quais dedicados a homens que ele acreditava representarem, em diferentes graus, as ideias conservadoras em suas épocas. Seu primeiro capítulo é uma excelente introdução ao resto do livro, pois nele Kirk revela o que considera ser a essência do conservadorismo. Para que suas escolhas entre os literários e políticos conservadores do passado façam sentido, é necessário que saibamos que critérios usa, e embora Kirk tenha o cuidado de chamar seu trabalho de “longo ensaio”, ele fornece seis cânones ou regras nos quais ele pensa que o conservadorismo anglo-americano pode ser diluído. Apesar de sua própria relutância em dar qualquer lista semelhante a “um corpo de dogmas fixo e imutável”, Kirk identifica as seis características seguintes como pertencentes a um verdadeiro conservador:
  • ·         Crença numa ordem transcendente ou corpo de leis naturais que regula a sociedade bem como a consciência. Existe verdade objetiva no universo e nós podemos conhecê-la. Mais, o grande objetivo da política é apreender e aplicar a verdadeira Justiça a uma “comunidade de almas”. Kirk coloca esta ideia no topo da lista; para um conservador, o relativismo moral não é uma opção. Deste ponto, todos os outros dependem. Existem coisas como o verdadeiro e o certo, o falso e o errado. Sem um padrão imutável, as tentativas de convivência social estão condenadas de antemão a falhar por não reconhecer que os homens são seres espirituais que não são infinitamente maleáveis.
  • ·         Afeição pela variedade e pelo mistério da existência humana em oposição à estreita uniformidade e igualitarismo dos sistemas “radicais”. Os conservadores estão convencidos de que a vida vale a pena, como dizia Kirk e, diferente dos liberais[1], não procuram forçar a igualdade sobre a humanidade.
  • ·         Convicção de que uma sociedade civilizada precisa do Estado de Direito e da classe média, em contraste com a noção de “sociedade sem classes”. Os conservadores acreditam que existem distinções naturais entre os homens que levam a desigualdades de condição. Os conservadores afirmam a igualdade perante Deus e a lei; mais igualdade, conduz à servidão e ao tédio.
  • ·         Liberdade e propriedade estão conectadas: sem propriedade privada, o Estado não pode ser detido. A redistribuição de riquezas por meio de impostos e outros meios, não é progresso econômico. Os homens precisam da propriedade privada para garantir seus direitos, exercer suas funções e limitar o governo.
  • ·         Fé na prescrição e desconfiança nos homens calculistas que querem reconstruir toda a sociedade de acordo com seus próprios desígnios abstratos. Um conservador acredita que as coisas são do jeito que são por uma boa razão: gerações passadas passaram costumes e convenções que resistiram ao teste do tempo. Os costumes servem para controlar a anarquia e o desejo de poder.
  • ·         Reconhecimento de que mudanças podem não ser uma coisa boa. Inovações apressadas podem tanto destruir quanto melhorar; os conservadores, por isso, são prudentes em suas mudanças e fazem reformas com mais cautela do que zelo.
Kirk permite variações nesta lista. Entretanto, a maioria dos conservadores dos últimos dois séculos têm aderido a estes cânones “com alguma consistência”. Kirk faz um bom trabalho demonstrando como cada homem que ele examina manifesta estes princípios.
Kirk faz uma breve tentativa de identificar os princípios básicos do pensamento liberal, como fez no primeiro capítulo. A crença na perfectibilidade humana, o desprezo pela tradição, o nivelamento político e econômico com uma visão secular da origem do Estado, servem bem, como esperado, para identificar os radicais em nosso meio. Kirk lança-lhes ao rosto uma acusação lancinante: eles amam a mudança.


[1] NT.: Liberal, na nomenclatura inglesa, corresponde a “esquerdista”.